A Baleia (The Whale) - Um filme de consagrações e incômodos
- Janaina Pereira
- 27 de fev. de 2023
- 3 min de leitura

A Baleia é um filme de consagrações, podemos citar algumas aqui, como a da A24 como a produtora que está revolucionando a indústria cinematográfica com projetos densos, e feitos sempre com maestria, Brendan Fraser retornou em seu grande papel, e com certeza deve levar a estatueta do Oscar por puro talento e entrega num papel dificílimo, Sadie Sink é uma das grandes atrizes jovens que temos, Hong Chau divide com Brendan as grandes doses de emoção do filme, é daquelas coadjuvantes que se não estivessem ali o filme não teria o mesmo peso, e Darren Aronofsky trabalhou com maestria com tantos talentos reunidos, e trouxe a reflexão para temas complexos e relevantes.
Mas outro ponto que temos que ressaltar em A Baleia é o incomodo que ele causa, e no primeiro momento isso pode estar associado a como Charlie (Brendan Fraser) é fisicamente, um homem com obesidade mórbida e com vários problemas de saúde recorrentes disso, mas quero ressaltar que enquanto assistia eu senti incômodos de ouvir certas frases, olhar algumas cenas mais dolorosas, eu em alguns momentos não queria ver o que estava passando, mas mesmo assim sabia o quão é necessário filmes como este para que possamos refletir sobre temas que não tem muita visibilidade.

Charlie escolheu a reclusão nos últimos anos de vida, ele dá aulas online, mas diz a seus alunos de redação que sua câmera sempre está quebrada, recusa-se a ir ao hospital mesmo ciente de que sua saúde está muito comprometida, e tem em Liz (Hong Chau), sua amiga e enfermeira sua única companhia. E de repente Ellie (Sadie Sink), filha que Charlie deixou quando tinha 8 anos retorna a sua vida, justamente quando parece que não há mais tempo para qualquer tipo de reconciliação. Ellie acusa o pai de deixá-la para que pudesse viver com seu companheiro, e neste momento Charlie também acredita que deve algo a Ellie, e que talvez a sua redenção venha quando ele ajudar sua filha.

A Baleia é um filme muito pesado, retrata a questão da obesidade de um panorama muito realista, e isso pode causar aversão em algumas pessoas, mas que na minha opinião é um mergulho intenso e revelador das facetas mais dramáticas de quem passa por isso. Charlie perdeu seu companheiro de um jeito bem traumático, e sem dar muitos spoilers essa perda foi um processo dolorido para todos que estavam envolvidos, e quando Charlie se ve sozinho depois de já ter perdido tanto quando escolheu viver esse amor, ele achou na comida o conforto necessário para continuar, mesmo que não seja por muito tempo. Liz (Hong Chau) é para mim a forca motriz de toda emoção do filme, em todos os momentos em que ela está em cena é quase impossível não se emocionar, o elo que a liga a Charlie é maior do que imaginamos, ela o repreende, mas é a única que percebe a bondade genuína que ele carrega, em todos os momentos em que eles trocam a uma atmosfera de entendimento para além de qualquer coisa.
E é essa pureza de Charlie que o faz acreditar na bondade do outro, e é esse seu foco neste momento em que parece dar adeus a essa vida, ele quer levar para o maior número de pessoas que a única forma de estarmos bem é sermos sinceros conosco, mas será que Charlie aplicou isso na sua vida? Eu mesma ainda não consegui formular uma resposta sobre isso, e talvez isso nem seja importante, A Baleia me fez pensar sobre religião, perdão, paternidade, salvação, compulsão, amizade, trocas, e para mim muito, muito de humanidade, em quase 2 horas você tem suas emoções remexidas, mas enquanto assistia a cena final eu senti paz, e isso naquele momento foi o suficiente.
Nota: Nossa senhora, que filme brilhante.
Onde Assistir: Cinema
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