A Queda da Casa de Usher - Mike homenageia Poe sem perder sua essência comovente

Toda vez que vejo, revejo alguma obra de Mike Flanagan tenho plena certeza de que sairei muito realizada dessa experiência, e em A Queda da Casa Usher acontece a mesma coisa, mas vou me arriscar em dizer aqui que há camadas mais profundas, a interpretação para o sobrenatural pode ser muitas, e mais uma vez interpretações irretocáveis, com um plus para Carla Gugino, que aqui meus amigos elevou sua personagem Verna num tanto que nem sei descrever.A Queda da Casa Usher é baseado num conto de Edgar Allan Poe, mas Mike mudou alguns pontos, e é claro, fez muitas outras referências as obras de Poe.

Conhecemos os irmãos Roderick (Bruce Greenwood) e Madeleine Usher (Mary McDonnell) que construíram um império farmacêutico, e tem como seu grande medicamento o Ligodone – um opioide reformulado, que alivia dores, e que promete que não vicia, mas depois que essa droga chegou ao mercado ficou mais que comprovado todos os malefícios que ela traz para quem faz uso. Roderick possui 6 filhos – Frederick (Henry Thomas) e Tamerlane (Samantha Sloyan) são filhos do primeiro casamento de Roderick com Annabel Lee (Katie Parker), e os demais filhos são frutos de outros breves relacionamentos de Roderick durante sua vida, e há sempre um olhar para os demais como os “bastardos” da família Usher. Temos Napoleon (Rahul Kohli), Camille (Kate Siegel), Prospero (Sauriyan Sapkota) e Victorine (T’Nia Miler), todos os herdeiros possuem uma vida de excentricidades, e como no caso de todos dinheiro não é problema, eles acham que a fortuna dos Usher pode tudo, e que sempre sairão ilesos de qualquer coisa.

A série irá intercalar o presente e o passado dos Usher, e esse início pode soar um pouco confuso para alguns, mas logo você vai entendendo a narrativa, a Farmacêutica Fortunato que é a empresa dos Ushers está sofrendo seu primeiro processo, e o promotor Dupin(Carl Lumbly) é quem está conduzindo o caso, mas quando os herdeiros de Roderick começam a morrer misteriosamente, ele resolve voltar a casa da sua infância e convida Dupin para confessar e explicar de uma vez por todas o que aconteceu com a linhagem Usher, e isso começa desde que ele e Madeleine eram crianças. Com essa premissa de suspense, terror, mistério, vamos conhecendo mais dos membros da família Usher, e principalmente há mais vislumbres de como essa família tornou-se bilionária e muito influente.

Já é de praxe que Mike consegue trabalhar o terror, o gore, sobrenatural de um jeito tão bem desenvolvido que mesmo com alguns sustos, e confesso que aqui eu tive uns bem grandes, você não consegue mais parar de ver, a narrativa é tão bem amarrada, inteligente, sensível que duvido que você não termine a série pensando sobre todas as camadas que os Usher trazem para refletirmos sobre a vida, e principalmente as nossas escolhas. Será que vale tudo por dinheiro e poder? A pergunta é clichê, mas aqui a partir dela podemos fazer novos questionamentos, pensar em outras respostas, ter um quantidade exacerbada de dinheiro e poder parece que te tira fora de qualquer limite, os Usher tem e gostam tanto dessa condição de herdeiros bilionários, que nada nem ninguém os detém, e mesmo quando um caminho diferente aparece para cada um deles, eles sempre optam por essa vida cheio de luxo, poder, sem qualquer limite, mas ela é vazia de compaixão, empatia, e principalmente lhe faltam humanidade.

O elenco mais uma vez traz rostos conhecidos de outros trabalhos de Flanagan, e isso é mais um atrativo para quem assiste, e temos algumas aquisições novas bem interessantes, há Mark Hamil como o macabro advogado Arthur Pym e faz tudo da família Usher. Para começar ele está fisicamente diferente, e todo o mistério que envolve Pym e a sua dedicação aos Usher é um adendo maravilhoso de se assistir. Dupin , também é um personagem que merece nossa atenção, e faço a ressalva que em seu último diálogo no episódio final me levou a lágrimas, ao perceber que mesmo com a descoberta de tudo o que de fato aconteceu, ele opta por enfim seguir adiante, os Usher já tomaram muitos anos dele, agora é o momento de enfim voltar para sua verdadeira riqueza.

A Queda da Casa de Usher é uma grande homenagem a Poe, mas Flanagan consegue manter sua essência que já estamos acostumados em seus trabalhos, principalmente nas produções com a Netflix, é um jeito especial de tratar o terror, sobrenatural, aquilo que racionalmente não conseguimos explicar, ele termina seu contrato com a Netflix de um jeito honroso, e mesmo que para mim não seja sua obra prima, é mais uma grande série que nos leva a muitas reflexões sobre essa incógnita que sempre será viver.

Nota: Muito, muito bom, uma homenagem digna e honrosa.

Onde Assistir: Netflix