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Aftersun e a apoteose de Charlotte Wells

  • Foto do escritor: Janaina Pereira
    Janaina Pereira
  • 30 de jan. de 2023
  • 3 min de leitura

Atualizado: 3 de fev. de 2023




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Acho que muita gente já ouviu, viu algo, alguém conhecido já comentou sobre o tão aclamado filme Aftersun primeiro longa de Charlotte Wells, cineasta escocesa que também assina o roteiro e a direção, em 2022 no Festival de Cannes ele ganhou o prêmio de melhor filme do júri. Desde então sempre fiquei curiosa em relação a essa história que irá acompanhar Calum (Paul Mescal), um pai jovem que está passando férias na Turquia com sua filha Sophie (Frankie Corio), e que irá esmiuçar como essas férias marcariam para sempre a vida de Sophie.


Num primeiro momento você acha que Aftersun é um filme pequeno no sentido narrativo a ser contado, entretanto depois de uns 15 minutos assistindo Calum e Sophie em cena você sente que está diante de algo grandioso, complexo e extremamente emocionante.

As imagens das férias da Turquia são truncadas de forma proposital, porque são como Sophie mais velha irá se recordar destas férias e principalmente de seu pai. Calum é jovem, destemido, mas há algo nele que o incomoda constantemente, uma dor que ele propositadamente esconde de Sophie, mas nós como expectadores temos acesso a alguns momentos angustiantes, íntimos, mas nada que te faça cravar a motivação desta dor.


Já Sophie com seus 11 anos está naquele momento do despertar dos desejos, das dúvidas, ao mesmo tempo em que ela demonstra compreensão extrema com seu pai, ela também o questiona, pressiona com alguns assuntos que ele ainda não consegue entender dentro de si mesmo. As interações com outros personagens é quase que 100% de Sophie com os outros hóspedes, Calum está ali vivendo as férias, mas também demonstra ver aqueles momentos como sua única chance para algo que não temos certeza. A maneira que a câmera é colocada é muito intimista o áudio de tudo no ambiente te dá a sensação de estar junto de Sophie e Calum nessas férias.



A beleza do amor que nem sempre está fisicamente presente, mas que reverbera em que somos, é com isso que fiquei pensando quando finalizei Aftersun, Sophie adulta é um emaranhado de Calum independente se ele está ali ou não, e esse momento que ela rebobina essa fita das férias na Turquia é uma forma de já adulta compreender o pai, e ao mesmo tempo, ele sempre esteve ali com ela, e continuará.


No filme há uma cena que Calum diz isso a ela, “que não importa o que ela faca, como e onde ela esteja, ele quer sempre estar ali”, e mesmo que na história fique subentendido que Calum não conseguiu estar fisicamente presente na vida da filha, ele continua vivo dentro de quem ela é hoje.É um filme extremamente poético, com algumas cenas bem doidas, mas que te faz querer olhar e ficar perto desses dois, o amor genuíno, e que muitas vezes pode causar atrito está inteiro ali, as cenas que os dois estão fazendo algo juntos é poesia e arte. Pedro Mescal está divinamente pleno, ele nos entrega um Calum simples, mas que carrega uma complexidade que vamos montando aos poucos enquanto o filme se desenrola, Sophie é uma pré-adolescente que transborda carinho, ela é essa garota que está vivenciando novas emoções naquele momento da vida, e tudo isso é retratado de uma maneira natural que te conquista assim que ela aparece em cena.


Aftersun é um filme melancólico, mas que te faz querer ficar, eternizar aqueles momentos dentro de você, é um amor retratado de um jeito muito único, particular, são um pai e uma filha construindo algo que irá perpetuar o caminho de ambos sejam para onde os dois estiverem. Charlotte Wells conseguiu entregar o filme que queria, é uma obra prima.



Nota: Excelente e poesia pura

Disponível em: Mubi

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