O lado voraz da vida.
- Janaina Pereira
- 16 de jan. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 30 de jan. de 2023

Como é de praxe temos mais um exemplar do talento único de Carla Madeira, desnudando a vida como poucos, e terminamos com uma sensação inquietante e deliciosa, e como a própria autora recomenda este livro é para ser lido uma vez e meia.
Nesta história iremos acompanhar o encontro de Biá (e reparem não é Bia hein, há esse acento que faz toda a diferença), uma psicanalista aposentada, apaixonada por livros que aborda Olívia uma jovem jornalista na mesa de um sebo improvisado, e ao questionar Olívia sobre o que ela perdeu nessa vida, temos o início de uma amizade improvável, mas que fica forte desde logo após a primeira conversa, pois as duas já perderam demais nessa vida.
Quando iniciei a leitura eu fiquei muito curiosa sobre o sofrimento de Olívia, pois num primeiro momento o leitor não fica sabendo o motivo de sua tristeza tão aparente, há apenas insinuações que te fazem imaginar o que houve em sua vida para que ela veja em Biá mais que uma amiga, e sim uma confidente de dores que ela está carregando a muito tempo.
Em contrapartida Biá é uma personagem carismática, esfuziante que cai nas graças do leitor desde o primeiro parágrafo, e o que num primeiro momento é apenas o intercalar dos encontros entre essas duas mulheres, vai tomando um corpo totalmente novo, da metade do livro pra frente você vai adentrando o passado de Biá e Olívia, e a partir daí meu caro é literalmente impossível não devorar a narrativa, e a mordida do título pode ser interpretada como a nossa voracidade em desvendar os mistérios mais íntimos de cada personagem.
Num primeiro momento vamos descobrir o que deixou Olívia triste com a vida, e sua jornada é inebriante, sua mãe Laura é daquelas personas irretocáveis, toda a sua história vem forjada na coragem, em alguns momentos seu olho fica cheio de lágrima ao entender o quão foi difícil para essa família continuar apesar de tudo.
E quando chegamos a história de Biá compreendemos o porquê essa amizade se perpetuou de forma quase imediata, suas vidas são tão parecidas que quase ficam interligadas.
Esses personagens são desnudados por Carla sem qualquer pudor, você adentra a alma dessas pessoas e vai compreendendo suas escolhas, as renúncias, as vontades, o abandono, e não há espaço para o julgamento, há apenas a compreensão mais genuína.
Quando finalizei fiquei imaginando como a vida realmente te morde sem dó, como mesmo sem culpa, há o corpo ali presente e isso traz consequências (no livro Carla diz “não há culpa, mas há o corpo), para si e para aqueles que o cercam, é um livro denso e bonito ao mesmo tempo, você vai se deleitando com o rumo dessas pessoas, ao mesmo tempo em que enxerga a dor de cada um. A Natureza da Mordida é mais que uma história inebriante, é uma experiência sensorial que desencadeia várias reflexões sobre como encaramos a vida.
NOTA: Excelente, único e vívido.
EDITORA: Record






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