Água Fresca para as Flores - Valérie Perrin - narrativa surpreendente, comovente e resiliente
- Janaina Pereira
- 30 de set.
- 3 min de leitura

Meu primeiro contato com Valérie Perrin foi no livro Três, e sai da leitura embriagada pelo talento de Valérie em contar histórias tão comoventes, mas ao iniciar a leitura de Água Fresca para as Flores eu fui invadida na inteligência em nos surpreender na mesma narrativa que ela usa aqui, se em Três temos uma enorme reviravolta que norteia seu final, aqui ao chegarmos na página 200 tomamos um susto, e depois tudo que tínhamos lido até aquele momento ganha uma expansão, mesmo eu me perdendo em alguns personagens que aparecem, eu fui surpreendida em inúmeros momentos.
Na trama vamos conhecer Violette, uma mulher de uns 50 anos que trabalha como zeladora em um cemitério, e todo o estereótipo de viver entre os mortos é derrubado nas primeiras linhas, a forma como Violette descreve seus “vizinhos” é impecável. Ela está nesse trabalho a quase 20 anos, seu marido Phillippe que ela conheceu muito jovem, e viveu uma paixão tórrida e muito complicada está desaparecido tem muitos anos, seus únicos colegas são os coveiros, o padre, os donos da funerária.
Ela e Phillipe tem uma filha, e antes de conhecer o marido ela sempre viveu a margem de tudo de todos, foi deixada ainda bebê, viveu em abrigos, lares temporários, e isso, infelizmente a fez conhecer dores cedo demais. Entretanto tudo muda quando Julién adentra o cemitério que Violette trabalha, ele quer deixar as cinzas de sua mãe no tumulo de Gabriel Prudent, e o que parecia uma história a parte de Violette, vai fazê-la reviver seu passado, saber onde seu marido está, e é o estopim para vermos todas as camadas que Violette guarda só para si.
Mesmo com quase 500 páginas, Água Fresca para as Flores possui uma leitura fluída, e depois da primeira grande reviravolta você apenas quer saber mais sobre esses personagens. Ressalto que há descrições tensas sobre alguns abusos, e se você for sensível a esse tema talvez não seja esse o livro. Água Fresca para Flores é um drama, mas mesmo no momento de temas complexos temos alguns respiros até cômicos, isso acontece por exemplo, quando os coveiros aparecem, um é obcecado por Elvis Presley, e o outro é extremamente desastrado, os relatos de Violette sobre alguns enterros, vamos acompanhar essas micro histórias em paralelo a principal, e isso dá uma aliviada no clima da narrativa.
Violette é a nossa protagonista, a narradora, e ir esmiuçando os momentos mais felizes, traumáticos, esclarecedores, terríveis de sua vida é uma jornada muito emocionante, me vi torcendo por ela em inúmeros momentos, tive vontade de abraçá-la para que a dor fosse minimamente amenizada, entendi por que viver entre os mortos foi sua salvação em diversos níveis, e ao ler aquele final eu entendi que Violette é uma sobrevivente, tem a resiliência como base para tudo, e que ela optou por continuar. Valérie Perrin é uma grande autora, a forma como ela nos contou, e depois contou a mesma coisa de outro jeito, ao mesmo tempo em que faz as conexões é primoroso, Água Fresca para as Flores é um livro maravilhoso, ele te faz mergulhar nesses personagens, e independente se você vai concordar com eles ou não, temos em mãos uma grande história, conexões inteligentes, um desfecho que é quase um bálsamo para a alma.
Nota: Incrivelmente belo, surpreendente e comovente
Editora: Intrínseca


