O Fim de Todos Nós - um caos conhecido, um sentimento que vivemos, uma literatura intensa e viciante
- Janaina Pereira
- 27 de ago.
- 3 min de leitura

Um vírus desconhecido e altamente letal isola uma ilha onde a jovem Kaelyn vive com seus pais, e seu irmão Drew. Tudo se inicia com febre, espirros, coceira, e em poucas horas os infectados também começam a falar intimidades com qualquer um. Entretanto o que tinha tudo para ser um livro narrado por uma jovem, tratando de pandemia, quarentena, e escrito em 2012, sim Megan Crewe parece que estava a frente do seu tempo no quesito pandemia, e que eu peguei para ler apenas por curiosidade, tornou-se um livro muito interessante ao questionar o que fazemos quando tudo está perdido, até que ponto ter esperança?
Até que ponto é aceitável desistir?
E as escolhas que fazemos mesmo quando tudo desmorona é o que reflete quem somos na essência?
Kaelyn é uma jovem dinâmica, inteligente, dedicada a família, que está passando por um dilema amoroso, seu melhor amigo Leo, por quem ela é apaixonada foi estudar fora da ilha, e antes disse eles já tinham deixado de se falar por outros motivos. Sua família viveu um tempo fora da ilha, mas uma decisão pessoal fez com que eles voltassem, e agora tudo parece diferente, as pessoas querem saber o houve para eles retornarem, sem a presença de Leo na escola tudo parece mais difícil, suas amigas mais próximas parecem quem não a entendem, ela tem que ver todo dia a namorada de Leo que ainda está na ilha, mas tudo vai tomar um rumo diferente quando este vírus começar a adoecer as pessoas.
O que no início parecia casos isolados foi tomando proporções maiores, o governo que num primeiro momento isolou a ilha vai tomando atitudes mais errôneas conforme passam-se os dias, e como em todo momento de caos com o desconhecido, algumas pessoas começam a agir de forma irracional, principalmente aquelas que não estão contaminadas. A família de Kaelyn tem muita relevância na história, mas outros personagens que pareciam menores tem momentos importantes e decisivos no desenvolvimento da narrativa. Megan divide o livro em 3 partes: Sintomas, Quarentena e Mortalidade, e por incrível que pareça a última parte é sensacional, ela cria suspense, drama, há capítulos curtíssimos que mostram o quão a nossa protagonista está perdida, vamos nos afeiçoando a alguns personagens, fiquem atentos a prima de Kaelyn – Meredith é uma criança ainda, mas vai ter que passar por inúmeros percalços pelo caminho, e ela é um ponto emocional essencial para Kaelyn. Gav, um amigo da escola também ganha ótimos momentos, e até Tessa, a namorada de Leo vai surpreender quem está lendo.
Mencionei em vários momentos enquanto lia que Megan está a frente do seu tempo, em 2012 ela retratou um vírus muito letal como o que sofremos com a Covid-19, e ler um livro assim depois de passarmos por uma pandemia tem um peso diferente, em muitos momentos nós sabemos exatamente a sensação de impotência total, uma desesperança fria que nos corrói quando vemos que não há nada que possamos fazer para impedir o vírus de seguir seu rumo, as medidas de precaução como uso de máscaras, lavar muito as mãos, manter o distanciamento, o isolamento, isso é uma constante na leitura do início ao fim.
Só que o mérito maior de Megan é ter a coragem de finalizar sua história daquele jeito, ela poderia seguir um padrão que já vimos inúmeras vezes, e que tem seu mérito claro, mas ela quis deixar em aberto, e nos últimos momentos ainda nos deixar chocados com a capacidade que temos de perder a noção do bem coletivo. Finalizei O Fim de Todos Nós grata pela excelente leitura, e mais uma vez a certeza de que não importa qual vírus possa surgir, o nosso maior inimigo somos nós mesmos quando deixamos o individualismo tomar conta, fazer com que o medo traga á vista nosso pior lado, e contra isso não há cura, nunca haverá.
Nota: Excelente, triste e angustiante.
Editora: Intrínseca






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