Pobres Criaturas - a beleza, a acidez e o feminino oriundo de Lanthimos e Emma
- Janaina Pereira
- 6 de mar. de 2024
- 3 min de leitura

Se as amarras sociais não existissem como seria o seu comportamento em sociedade?
Para Bella Baxter o que é socialmente aceito não existe, ela é apenas uma mulher livre de qualquer pudor, dona e proprietária dos seus desejos, livre para explorar o mundo e a si.
Pobres Criaturas é um filme dirigido por Yorgos Lanthimos, e mistura romance com ficção, e foi produzido por Emma Stone que também atua no filme. Ele é baseado no livro homônimo de Alasdair Grey. O longa tem muitas referências, mas a mais notável é do clássico Frankenstein, já que o doutor Godwin Baxter (Willem Dafoe), um cientista/anatomista brilhante e bizarro, é o responsável por trazer de volta a vida Bella Baxter (Emma Stone).

Ela se jogou de uma ponte, mas como estava grávida, Godwin fez um experimento trocando o cérebro dela pelo do bebê. E como é uma mulher com a mente de um recém-nascido tudo é uma novidade, ela precisa aprender a caminhar, andar, e esses primeiros minutos em que conhecemos Bella, é surreal admirar o trabalho que Emma realizou, todos os trejeitos dela, a voz, o olhar curioso e alheio a tudo que nos é imposto socialmente. Só que ao começar a entender ela e tudo ao seu redor, vem a vontade de conhecer o mundo, por mais que Godwin seja seu mentor, o lá fora as descobertas são infinitas, e quando Bella descobre o prazer que vai além do sexual, ela entende que é necessário se aventurar, e para acompanhá-la nisso ela se envolve com Duncan (Mark Ruffalo), um típico cafajeste, que se vê atraído por Bella, mas logo entende que o seu jeito livre não é o que ele busca.
Vi que muitas pessoas ficaram impactadas sobre a questão sexual abordada no filme, entretanto essa libertação sexual é uma ferramenta disponível que a faz compreender, descobrir o mundo, as pessoas, as relações. Ela entendeu muito rápido e assertivamente que o prazer pode ser obtido literalmente por ela mesmo, e isso corrobora para que o outro só fique ao seu lado se for para agregar, dividir, ela não se prende a ninguém por nenhum motivo além do gostar genuíno.

Pobres Criaturas é uma obra de arte, o filme visualmente preenche a tela e os nossos olhos, todas aquelas cores, a lente super angular que distorce tudo que está ao redor, é bizarro, mas encanta como ninguém. Os lugares mostrados têm um ar retro futurista que encanta, todo cantinho que é mostrado no filme enche os olhos de quem assiste, o figurino sempre impecável, colorido, diferente, Pobres Criaturas é daquelas obras que para se absorver tudo que Yorgos colocou em tela, preciso ser visto muitas vezes, e acredito que as sensações sobre a narrativa também mudem a cada inserção.
A relação de Bella e Gordon é o ápice mais emocional em Pobres Criaturas, porque de fato tanto Bella como Gordon não são bem-vistos, e essa estranheza que está nos dois, é a ligação necessária para um sentimento paternal nascer entre eles, cada um encontra no outro seu porto seguro, o lugar para voltar e se reconectar com o que é mais importante, mas mesmo estabelecendo essa relação. Pobres Criaturas é bizarro, fantástico, polêmico, intenso, mas para mim o principal é Bella, essa mulher renascida genuinamente ingênua, fortemente livre para ser o que é, mesmo que o mundo não seja acolhedor, belo, justo, e como o nome do longa já deixa posto repleto de pobres criaturas em todos os sentidos.
Nota: Essencialmente belo, original, feminino e libertador.
Onde Assistir: Nos Cinemas






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