Treta - Um evento casual. Duas pessoas raivosas. Um olhar para dentro de nós
- Janaina Pereira
- 18 de abr. de 2023
- 3 min de leitura

A premissa inicial de Treta é algo extremamente corriqueiro, e que parece que será apenas uma comédia baseada em dias ruins que todos nós temos. Danny (Steven Yeun) está tentando trocar produtos numa loja, quando não acha o recibo, ele está visivelmente num dia estressante, e desiste da troca de forma abrupta para ir embora, no estacionamento ele quase bate no carro de Amy (Ali Wong), ela buzina de forma insistente e depois mostra o dedo do meio para ele, e isso foi o estopim para dos dois se perseguirem nas ruas de L.A.

E o que parecia apenas duas pessoas que se encontraram num dia péssimo para ambas e perderam o controlo emocional, é um olhar intenso sobre essas pessoas, o que as motivou a perderem o controle naquele dia específico, e em diversos momentos durante a vida.
Amy é uma empreendedora de sucesso que está no meio da venda no seu negócio para uma grande loja, é a oportunidade que ela busca para enfim não se preocupar tanto com dinheiro, e enfim aproveitar sua família. Ela é casada e tem uma filha, mas o que parece ser muito perfeito já que dinheiro não lhe falta é apenas uma fachada para problemas não resolvidos, um casamento que ambos fingem, uma maternidade questionada, e principalmente um fingimento constante de Amy para demonstrar aos outros que ela é uma pessoa muito equilibrada, calma, mas a verdade é que por dentro há um turbilhão de coisas acontecendo, e uma frustração que está em escalada.

Nos primeiros episódios Danny e Amy vão se perseguindo e cada um fazendo algo para se vingar do que o outro fez, mas o roteiro começa a introduzir um pouco mais da historia de ambos para que possamos ter a real noção de quem são essas pessoas, Danny, por exemplo, tem uma pequena empresa, ele é um empreiteiro (faz tudo), que mora com o irmão caçula Paul (Young Mazino), que não o ajuda no seu negócio, e seu sonho é que trazer seus pais novamente para morarem em LA, eles tinham um motel, mas por algo que seu primo Isaac (David Choe) provoca eles perdem o negócio e precisam voltar para a Coréia, entretanto mesmo Issac sendo o maior culpado por isso Danny ainda convive muito com ele já que é da família.
Do lado de Amy vamos conhecer mais do seu marido George (Joseph Lee), filho de um grande artista plástico, e que tem pretensões com a arte também, mas está bem distante do talento de seu falecido pai. Sua mãe Fumi (Patti Yasutake) é mega autoritária, e exerce um poder sobre George e sua vida que claramente é mais um incomodo na vida de Amy.
Os personagens vão se entrelaçando de uma forma muito inusitada e engraçada, realmente o roteiro acerta muito no quesito comédia, Amy e Danny tem um talento para a comédia, um sarcasmo muito gostoso de assistir, mas quando é preciso uma escalada para o drama eles dão um show á parte, e por serem episódios de em média 30 minutos você acha que será apenas a comédia, mas tem mais, tem muito mais.

Depois da metade da série os acontecimentos tomam um rumo mais caótico, violento em alguns casos, e você começa a entender que na verdade vamos destrinchar esses personagens exatamente nos lugares mais ocultos do ser humano, sabe aqueles segredos que tentamos esconder até de nós mesmos? Aquelas atitudes que podemos tomar, mas que são inomináveis? A história vai mostrando cada uma dessas facetas, mas isso não quer dizer que o drama vai tomar conta, há ainda momentos de risos, mas já percebemos que a ideia principal de é mais além do rir.
Lee Sung Jin, criador da série acertou muito em retratar o vulnerável, mas sempre com um humor sarcástico, e há uma crescente nas emoções que culminará num final e tanto. Treta além de uma série muito, muito boa é uma experiência a ser vivenciada, uma originalidade ímpar ao mostrar sem qualquer pudor o que nos aflige, e que culmina em ações desastrosas, egoístas, mentirosas e essencialmente humanas.
Nota: Excelente em retratar o que mais escondemos
Onde Assistir: Netflix






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