Véspera, Carla Madeira - O livro que te tira do eixo!
- Janaina Pereira
- 16 de fev. de 2023
- 3 min de leitura

O que antecede o extremo?
Qual foi a véspera do dia em que uma mãe abandona seu filho na rua e vai embora?
Com essas premissas começamos a ler Véspera, livro da talentosíssima Carla Madeira, que construiu não apenas uma leitura excitante e reflexiva, mas que conseguiu falar de temas tão assombrosos do ser humano sempre abrindo o leque do que está por trás de ações até consideradas hediondas. O livro irá intercalar o presente e o passado, e logo no primeiro capitulo somos apresentados a Vedina, uma mulher que claramente está esgotada no sentido mais amplo da palavra, e num dia aparentemente comum toma uma atitude extremista que irá definir a sua vida para sempre, ela é casada com Abel, e quando passamos para os capítulos sobre o passado, vamos começar a entender toda a construção da sua família, ele é gêmeo de Caim, filhos de Custodia e Antunes, e há disfunções familiares desde sempre.
Temos a questão dos nomes da criança que possuem um “peso”, como se eles estivessem marcados assim como a passagem bíblica, o alcoolismo do pai, a fé desmedida da mãe juntamente com a crença de manter os dois irmãos sempre unidos, e o fator externo que é quando essas crianças enfim começam a conviver em sociedade. Iremos acompanhar toda a vida de Abel e Caim, desde a infância marcada pela união dos dois, não respeitando o indivíduo de cada, adolescência e todos os conflitos inerentes a idade, sendo neste caso com alguns agravantes, até a fase adulta deles, e é engraçado como em todo o momento paira no ar uma preocupação extrema principalmente de Custódia para que a história bíblica não se repita aqui, porém é inegável que muitos extremos tem seu inicio numa situação até então vista como banal, a mente, e o amor criam ilusões de você não está vendo aquilo, e o livro exacerba de forma explicita que esse “fechar os olhos”, pode ser decisivo para ações extremas.

A forma como Carla optou por contar essa história para mim foi a grande surpresa, o jeito como as frases são ditas, a forma fluida como você vai se envolvendo com aquela família e seus dilemas, o desenvolvimento da história é meticuloso, não há nada de mais ou menos, tudo é feito na medida exata para que você queira continuar lendo, para tentar descobrir se todas as teorias que você vai imaginando poderão se concretizar, e digo com toda a certeza deste mundo, é impossível prever a forma como Carla termina Véspera, é tudo tão real, mas sabe aquelas realidades duras de se aceitar? É isso que senti quando finalizei o livro depois de 3 dias em plena madrugada, sim você vai devorar Véspera, e terminará saciado, mas com um gostinho um tanto amargo, mas que você sabe lá no fundo aquele final é muito da “vida real”.
E por mais que você julgue algumas atitudes desses personagens, você ao mesmo tempo sabe o estopim de cada uma dessas escolhas hediondas. É um livro que pode causar alguns gatilhos, mas ao ler certos capítulos eu ficava enojada e queria saber mais, por que este ou aquele personagem fez isso? Será que uma pessoa seria capaz de fazer isso? Todos esses questionamentos se inicial lá no primeiro capítulo, e continuam ao ler a última frase, as reflexões sobre o extremo persistem muito tempo depois, e nem sei se um dia poderão ser plenamente respondidas. Carla Madeira é uma escritora consistente, com uma narrativa cativante, escreve sobre o atroz como nunca tinha lido, você se enoja, mas não consegue largar, e o meu único arrependimento é não ter começado a ler antes.
Nota: Excelente e muito, muito mais
Editora: Record






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